A Instrumentalização dos Direitos das Mulheres na União Europeia como Bode Expiatório para Políticas Anti-Imigratórias
Imagem/reprodução Faruk Tokluoğlu
No dia 17 deste mês, o Parlamento de Portugal aprovou um projeto de lei que visa
proibir o uso de hijab e burca em espaços públicos, bem como quaisquer roupas
que ocultem o rosto. Inicialmente, essa medida foi apresentada como um avanço
nos direitos das mulheres, mas logo se tornou evidente a verdadeira intenção por
trás dessa legislação.
Na terça-feira, 28 de outubro de 2025, foi aprovada a "Lei do Chega", também
conhecida tecnicamente como a Lei da Nacionalidade de Portugal. O CHEGA,
partido de direita radical liderado por André Ventura, busca dificultar o acesso dos
imigrantes à cidadania portuguesa. Essa não é uma questão restrita a Portugal;
mais de 12 países da União Europeia estão implementando legislações que visam
restringir os direitos dos imigrantes, com leis cada vez mais rígidas e nacionalistas.
Observa-se que, no início do mês, quando Ventura tentava aprovar o Projeto de Lei
n.º 47/XVI/1.ª (a lei da burca), ele argumentava que a medida seria benéfica para as
mulheres, permitindo que as mulheres muçulmanas não fossem mais tratadas como
objetos e pudessem recuperar sua liberdade. Contudo, essa abordagem pode ser
vista como uma manobra política. A verdadeira intenção por trás desse projeto é
tornar a prática islâmica impossível em Portugal. É importante notar que nem toda
mulher muçulmana é islâmica, e essa falta de compreensão é evidente no texto da
lei. Proibir que indivíduos exerçam aspectos inerentes à sua religião configura
intolerância religiosa, no caso, a islamofobia. Presumir que as mulheres que utilizam
trajes como hijab, niqab e burca o fazem como símbolo de repressão feminina, e
não como uma escolha individual, implica a negação da autonomia dessas
mulheres.
O foco deste debate não é apenas o pacote de políticas anti-imigração que está
sendo construído pela União Europeia, nem a questão do direito das mulheres de
usarem burca ou não. O que se busca discutir é como esses discursos se
entrelaçam e como a narrativa sobre os direitos das mulheres se transforma em um
projeto político que limita a liberdade religiosa. Proibir que pessoas utilizem roupas
religiosas em espaços públicos não fere a liberdade de expressão defendida pelo
partido de Ventura?
A defesa dos direitos das mulheres não pode ser usada como um pretexto para a
discriminação e a exclusão de grupos religiosos, não se pode querer utilizá-las
como ferramentas de controle social.
Autora
Maria Dreher